Atualmente, a recuperação de crédito no país é significativamente baixa, com apenas 18 centavos recuperados a cada dólar emprestado
O aumento do crédito, impulsionado pelo Novo Marco das Garantias, sancionado no fim do ano passado, deve fomentar o crescimento econômico brasileiro, de acordo com a avaliação de especialistas. Com a desburocratização e agilidade promovidas pelas novas regras, a oferta de crédito cresce, estimulando a economia do país. Atualmente, a recuperação de crédito no país é significativamente baixa, com apenas 18 centavos recuperados a cada dólar emprestado, em comparação com a média mundial de quase 37 centavos. Essa ineficiência aumenta os riscos e, consequentemente, as taxas de juros cobradas pelos bancos.
Segundo o economista Adolfo Sachsida, ex-ministro de Minas e Energia, o Marco das Garantias vai dinamizar os mercados de crédito, capital e seguros no Brasil. “As estimativas indicam que só esse novo marco vai gerar R$ 100 bilhões por ano em novas operações de crédito, nos próximos dez anos. O benefício mais evidente é que será possível usar melhor a garantia que se dá ao banco. Então, quando alguém financia um carro ou uma casa, a garantia é o bem que está financiando. Usando melhor a garantia, as taxas de juros se reduzem e o crédito aumenta”, explica.
Sachsida destaca a importância dessa medida para a população de baixa renda, que enfrenta grandes dificuldades para acessar o crédito. Com garantias mais robustas e recuperações mais eficientes, os bancos podem oferecer empréstimos com taxas de juros mais baixas, tornando o crédito mais acessível para todos. Um exemplo concreto é o saque-aniversário do FGTS, criado em 2019, que permite empréstimos com taxas significativamente menores devido à garantia associada. “A mesma Caixa Econômica Federal que cobra de 4,5% a 5% ao mês para um empréstimo pessoal, cobra 1,2% ao mês quando se usa o saque-aniversário como garantia. A diferença é a garantia”, salienta.
Segundo o ex-ministro, a relação de crédito-PIB no Brasil é em torno de 54%, enquanto nos Estados Unidos é mais de 100% e em países com o mesmo padrão de desenvolvimento do Brasil é mais de 80%. “Dá para crescermos 30 pontos percentuais do PIB em crédito. Melhorar o crédito significa que uma pessoa com dificuldade vai conseguir comprar uma casa, que um estudante vai financiar seu curso, que um trabalhador vai ter um carro. Essa é uma agenda que podemos avançar rapidamente”, afirma.
Aposta no crédito
A implementação do Novo Marco das Garantias também está alinhada com a meta de modernização econômica do Brasil. “Nas últimas entrevistas do ministro Haddad, quando perguntam onde ele vê esperança para o crescimento da economia brasileira, ele sempre diz que é o crédito. Justamente, essa grande expansão do crédito vai financiar a produção e o consumo no Brasil, gerando um ciclo sustentável de crescimento”, lembra Sachsida, prevendo um aumento de dez pontos percentuais do PIB, a médio e longo prazos, com a influência do crédito na economia. “Isso equivale a um montante aproximado de R$ 1 trilhão em dez anos”, calcula.
Para o economista José Pio Martins, o acesso ao crédito tem impacto positivo em toda a economia. “O aumento da demanda por bens e serviços devido ao maior crédito provoca um efeito cascata na cadeia de produção, beneficiando a indústria e fornecedores, criando empregos e atraindo investimentos. A médio e longo prazos, a combinação de maior consumo, investimento e produção resulta em crescimento econômico e controle da inflação, refletidos no aumento do Produto Interno Bruto (PIB)”, afirma.
Desburocratização e agilidade nos processos
Com mais de 30 anos de experiência no mercado financeiro, o vice-presidente da Tecnobank, Luis Otávio Matias, assegura que o processo extrajudicial de recuperação de veículos traz mais facilidades na hora de financiar e comprar. “Essa ação pode ser realizada junto aos Detrans por meio de empresas especializadas, tornando o procedimento mais eficiente em custo e tempo”, esclarece. Ele ressalta, ainda, que esse ciclo reduz a depreciação e as taxas de juros, tornando as parcelas mais acessíveis, aumentando o volume de crédito e permitindo que mais pessoas comprem carros.
Segundo o especialista, com um processo mais eficiente, toda a cadeia produtiva será beneficiada, fabricando mais carros, renovando a frota e retirando de circulação veículos em mau estado. “Exemplos no Brasil, como a recuperação de crédito imobiliário extrajudicial, mostram que esse modelo aumenta o volume de crédito, reduz taxas e amplia o acesso ao crédito, comprovando a eficiência em comparação com processos judiciais”, finaliza.