A trégua entre as maiores facções criminosas do Brasil durou menos de três meses. Autoridades alertam para risco de novos confrontos violentos dentro e fora dos presídios
Chegou ao fim a aliança histórica entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), duas das maiores facções criminosas do Brasil. A trégua, firmada no início do ano para reduzir os confrontos dentro do sistema penitenciário e dividir rotas do tráfico de drogas e armas, durou menos de três meses.

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O rompimento foi oficializado por meio dos chamados “salves”, comunicados internos enviados aos integrantes das organizações. Segundo autoridades, a união sempre foi vista com desconfiança por causa das diferenças estruturais entre os dois grupos criminosos. “Nunca se acreditou nessa trégua de forma tranquila. As facções possuem comandos distintos e interesses que se chocam”, afirmou Ivana David, desembargadora do TJ-SP, entrevistada pela reportagem.
Assassinato de jovem expôs fragilidade do pacto
A tensão entre os grupos permaneceu durante o acordo. Um exemplo foi o caso do adolescente Henrique de Jesus, de 16 anos, assassinado no litoral do Ceará após posar para uma foto fazendo um gesto que representa o número 3, símbolo do PCC. Henrique estava em viagem com o pai pela primeira vez e não sabia do significado criminoso do gesto.
Trégua foi usada como estratégia contra sistema federal
De acordo com investigações, a aliança também servia como manobra para pressionar o sistema prisional federal. Advogados das facções tentavam convencer a Justiça a transferir líderes das unidades federais, onde o controle é mais rígido, de volta aos presídios estaduais.

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Presos como Marcola do PCC e Marcinho VP do Comando Vermelho, estão isolados em presídios de segurança máxima. Este último teria criticado publicamente o acordo, alegando que não foi consultado sobre a união e reforçando que o PCC sempre será inimigo.
Conflitos regionais se intensificam
Com o fim da trégua, a situação se agravou em diversas regiões do país como em Santa Catarina que lideranças do Comando Vermelho declararam guerra ao PCC, no Acre onde o Comando Vermelho ordenou a saída dos rivais de seu território e no Amazonas onde a disputa pela rota do narcotráfico no Norte reacendeu o confronto entre os grupos.
A tensão reacende o alerta para possíveis massacres dentro das penitenciárias. Em 2017, a rivalidade resultou em um dos episódios mais sangrentos da história recente, quando 56 presos foram mortos em Manaus, sendo 26 deles membros do PCC.

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O fim da trégua entre PCC e Comando Vermelho é mais um capítulo na longa e violenta disputa pelo comando do crime organizado no Brasil. Autoridades temem uma nova escalada de violência, tanto nas ruas quanto nos presídios, e reforçam a necessidade de monitoramento e estratégias eficazes de segurança pública.