Primeiro caso de resgate, reabilitação e devolução da espécie à natureza na Amazônia
A onça-pintada resgatada no meio do Rio Negro, em outubro deste ano, foi devolvida à natureza após uma megaoperação. A ação começou às 6h do dia 9 e foi concluída no dia 10 de novembro, marcando um feito inédito na Amazônia.

Foto: Divulgação
O animal adulto, de aproximadamente 4 anos e 54 quilos, foi baleado e atingido com 37 projéteis de espingarda na cabeça, pescoço e nariz, voltou à natureza no último dia 9 de novembro, após passar por um processo inédito de resgate, tratamento e reabilitação no Amazonas. O felino, que ainda perdeu um dente devido aos ferimentos, tornou-se o primeiro exemplar selvagem da espécie no estado a ser tratado em ambiente hospitalar por veterinários e, posteriormente, reintegrado à selva.
A onça foi encontrada nadando exausta no Rio Negro, quando foi resgatada por agentes da Polícia Ambiental do Amazonas. Mesmo ferida, o animal não ofereceu resistência, devido ao estado de cansaço. Ela foi encaminhada ao Centro de Acolhimento da Vida Silvestre, em Manaus, onde recebeu os primeiros cuidados.

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Após as cirurgias para retirada dos projéteis e estabilização dos ferimentos, a onça foi transferida para o zoológico do Tropical Hotel, onde permaneceu sob o cuidado de veterinários. Segundo os profissionais, havia a suspeita de que os projéteis tivessem comprometido a visão do animal, hipótese descartada após a recuperação.
Durante a reabilitação, a equipe introduziu carne de caça e até presas vivas, para garantir que o felino não perdesse seu instinto natural de sobrevivência.
O processo de soltura exigiu uma operação especial. A onça foi sedada, colocada em uma caixa de transporte especialmente preparada e levada de helicóptero até uma unidade de conservação ambiental na região do Rio Negro. A viagem marcou o início de um novo ciclo para o felino.
Ao ser solta, a onça permaneceu dentro da caixa de transporte por algumas horas, observando silenciosamente o ambiente ao redor antes de se deslocar. O comportamento foi considerado natural: um período de reconhecimento do novo território. A ação envolveu médicos-veterinários, biólogos, pesquisadores e técnicos de imagem. A equipe precisou acampar na mata para garantir a liberação do animal em plenas condições de segurança, conforme orientações dos profissionais envolvidos. É importante ressaltar que o felino foi entregue à natureza após 40 dias de resgate.

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A onça foi sedada por veterinários especializados e transportada em uma caixa confeccionada especialmente para a operação. Após ser liberado, o animal retornou de forma segura ao ambiente natural, onde continuará sendo monitorado por especialistas. O animal foi levado de helicóptero até uma comunidade em Novo Airão e, de lá, transportada de barco até o local de soltura, escolhido tecnicamente para garantir que o animal pudesse viver em segurança, longe da população. Esse é o primeiro caso de resgate, reabilitação e devolução da espécie à natureza na Amazônia.
Esse é o primeiro caso registrado de um felino da espécie Panthera onca resgatado, tratado e reintroduzido em seu habitat natural na região.
Monitoramento e reintrodução
Antes da soltura, a onça-pintada recebeu uma coleira de radiomonitoramento no dia 4 de novembro de 2025, durante exames que confirmaram seu bom estado de saúde. O equipamento foi cedido pelo Instituto Onça-Pintada (IOP), de Goiás, por meio do biólogo e fundador da instituição, Leandro Silveira.
Para garantir a adaptação e avaliar sua recuperação total, o colar de monitoramento emite sua localização. O acompanhamento será feito pelos próximos dois anos, tempo estimado de duração da bateria do equipamento.

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Daqui a um ano, os mesmos pesquisadores que participaram da reabilitação devem localizar a onça em meio à floresta para avaliar seu estado geral e ajustar o monitoramento, se necessário.
A onça-pintada é o maior felino das Américas e espécie-chave para o equilíbrio ambiental. O resgate e a devolução bem-sucedida desse exemplar representam um marco para a conservação no Amazonas. Órgãos ambientais destacam que o monitoramento em tempo real deve enriquecer estudos sobre comportamento, deslocamento e sobrevivência da espécie na região.
O resgate e a reintrodução representam um marco para a conservação da fauna amazônica.
Relembre o caso
O animal foi encontrado no Rio Negro enquanto tentava se deslocar de Iranduba (a 27 quilômetros de Manaus) para a capital amazonense, após ser atingido por diversos disparos de chumbinho. A ação de resgate contou com o apoio da Companhia Ambiental Fluvial do Batalhão de Policiamento Ambiental (BPAmb) da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM).

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36 estilhaços foram encontrados no rosto do felino, que precisou passar por atendimento veterinário de urgência para sobreviver.
Após os primeiros cuidados, a onça foi encaminhada, com autorização do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), para o antigo zoológico do Tropical Hotel, em Manaus. Durante o período de reabilitação, o animal recebeu acompanhamento constante até apresentar condições adequadas para o retorno à natureza.

