Mercosul expõe racha entre Lula e Milei sobre pressão dos EUA à Venezuela

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O presidente Lula disse que os limites do direito internacional estão sendo testados

A abertura da 67ª Cúpula do Mercosul evidenciou um profundo desacordo entre Brasil e Argentina sobre como lidar com a crise na Venezuela e o papel dos Estados Unidos na região. Em discursos consecutivos neste sábado (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou para os riscos humanitários de uma escalada militar, enquanto o argentino Javier Milei elogiou a pressão norte-americana sobre Caracas.

Foto: Divulgação

Anfitrião do encontro, realizado em Foz do Iguaçu, Lula criticou a presença militar dos Estados Unidos no entorno da Venezuela e afirmou que uma eventual intervenção armada representaria uma “catástrofe humanitária” para o hemisfério. O presidente brasileiro disse que os limites do direito internacional estão sendo testados e que uma ação militar abriria um precedente perigoso, aprofundando a instabilidade regional.

As declarações fazem referência à escalada promovida pelo governo do presidente Donald Trump, que desde agosto ampliou o cerco militar na América Latina e no Caribe sob a justificativa de combater o tráfico de drogas, incluindo o posicionamento de navios de guerra no Mar do Caribe e ações contra embarcações. Em entrevista concedida na sexta-feira (19), Trump não descartou a possibilidade de um confronto.

Logo após a fala de Lula, Milei adotou posição oposta ao subir ao púlpito. Alinhado a Washington, o presidente argentino defendeu a intensificação da pressão internacional sobre o governo de Nicolás Maduro, a quem chamou de “narcoterrorista”. Milei classificou o regime venezuelano como uma “ditadura atroz e inumana” e afirmou que a Argentina vê com bons olhos a atuação dos Estados Unidos para “libertar o povo venezuelano”.

A divergência escancara a falta de convergência entre os dois principais sócios do Mercosul quanto ao uso de pressão externa e ao papel de potências extrarregionais no continente. Enquanto Lula tem defendido o diálogo diplomático como forma de evitar uma escalada do conflito, Milei sustenta que a pressão internacional é necessária para forçar mudanças em Caracas.

O impasse ocorre em um momento sensível para a diplomacia brasileira, que busca reaproximação com os Estados Unidos após sanções a autoridades brasileiras e sobretaxas a produtos do país. No início de dezembro, Lula conversou por telefone com Trump e com Maduro. Segundo o presidente brasileiro, a ligação com o líder venezuelano durou cerca de 40 minutos e teve como objetivo avaliar como o Brasil poderia contribuir para uma saída negociada.

Em conversa posterior com Trump, Lula colocou o Brasil à disposição para ajudar em uma mediação, desde que haja disposição para o diálogo. O presidente afirmou ainda que pode voltar a falar com o líder norte-americano antes do Natal para discutir alternativas diplomáticas e evitar um confronto armado.

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