Bacia Amazônica está em fase de transição para as cheias após enfrentar os últimos dois anos mais secos da história
O Rio Negro encheu 20 cm em dois dias consecutivos, alcançando o nível de 22.93 metros nesta quarta-feira (19). De acordo com as informações do Porto de Manaus a situação é de enchente. A Bacia Amazônica está em fase de transição para as cheias após enfrentar os últimos dois anos mais secos da história.
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Foto: Divulgação
O processo de enchente teve início no mês de outubro de 2024, após a pior seca registrada em Manaus pelo segundo ano consecutivo, conforme o Serviço Geológico do Brasil (SGB), quando o rio chegou a 12,68 metros.
No mesmo mês, após encher 40cm, teve ínicio o repiquete, quando o rio desceu mais de 1 metro, voltando a encher nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Já em fevereiro de 2025, o rio teve quatro dias parado, retornando ao processo de enchente no dia 08. Desde então subiu mais 71cm.
Nesta quarta-feira o registro do Porto de Manaus registrou o nível de 22.93 metros para o rio, que encheu 20cm nos últimos dois dias. As chuvas na cabeceira do rio devem acelerar o processo de enchente.
Cenário atual na Bacia do Rio Amazonas
Na calha principal dos rios Solimões e Amazonas, é observada a transição entre o período de seca e o início das cheias. O pico de cheia no alto Solimões, em Tabatinga, ocorre geralmente em maio. Já ao longo Rio Amazonas e na foz do Rio Negro, nas cidades de Manacapuru, Manaus, Santarém (PA) e Óbidos (PA), os níveis máximos são esperados entre maio e julho.
“Até o momento, os níveis dos rios estão dentro da normalidade para esta época do ano, mas o monitoramento contínuo é essencial para acompanhar a evolução das cheias”, aponta o pesquisador do SGB Marcus Suassuna.
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Foto: Divulgação
Nos afluentes da margem direita da Bacia do Amazonas, como o Rio Acre, o período chuvoso já começou, com possibilidade de cheias localizadas entre dezembro e abril. O SGB opera o Sistema de Alertas Hidrológicos do Acre (SAH Acre) desde 2014 e, em dezembro de 2024, iniciou a operação de monitoramento das cheias de 2024/2025, monitorando chuvas, vazões e níveis dos rios, além de manter diálogo constante com órgãos estaduais e municipais para mitigar os impactos de potenciais eventos extremos na bacia.
Nas bacias dos rios Madeira e Xingu, que passam por Rondônia e Pará, os picos de cheia são esperados entre março e abril.
“O monitoramento dessas bacias é realizado ao longo de todo o ano e, atualmente, o foco está no acompanhamento da transição do período seco para o chuvoso, considerando que os níveis máximos anuais devem ocorrer entre março e abril. Atualmente, os rios apresentam condições dentro da normalidade para o período”, aponta.
Já na Bacia do Rio Branco, no estado de Roraima, o regime de cheias tem seu pico entre maio e julho. Nesse momento, a região ainda está no período de vazante. O SGB iniciará a operação de acompanhamento das cheias a partir de maio.
Atenção para cheias durante o primeiro semestre
Na região amazônica, os períodos de cheias e estiagem são bem definidos. Durante o primeiro semestre do ano, o foco é no monitoramento das cheias, enquanto no segundo semestre o acompanhamento se concentra nas secas.
“Caso os rios monitorados entrem em uma condição de alerta, a operação de monitoramento é intensificada, com a emissão de alertas mais frequentes em caso de eventos extremos. Essas ações visam fornecer informações precisas e tempestivas para auxiliar na gestão de crises e na tomada de decisões por parte dos órgãos competentes”, explica Suassuna.
Preocupações para 2025
Apesar da recuperação gradual dos níveis hídricos, a situação na bacia ainda preocupa, destaca Suassuna: “Os eventos extremos dos últimos dois anos evidenciaram a vulnerabilidade da região às mudanças climáticas e a necessidade de ações coordenadas para mitigar os impactos de secas e cheias severas”.
O pesquisador reforça que o SGB seguirá ampliando os esforços de monitoramento e comunicação: “A Bacia Amazônica é um patrimônio natural de importância global, e sua proteção requer o engajamento de todos os setores da sociedade. O SGB segue comprometido em fornecer dados técnicos e científicos de qualidade, contribuindo para a gestão sustentável dos recursos hídricos e a redução dos riscos associados a eventos extremos”.
Acompanhe aqui os boletins do Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do Rio Amazonas.