Imagens mostram as dispersões entre Roraima, Amazonas e Pará a partir de áreas desmatadas no bioma, que teve seu pior julho dos últimos 20 anos em número de incêndios
Imagens capturadas pelo satélite Aqua da NASA, em 4 de agosto, revelaram uma fumaça densa e incomum resultante de queimadas na Amazônia. O satélite, em operação desde 2002, é utilizado para estudar o ciclo da água na Terra, incluindo precipitações e evaporações.
A fumaça foi registrada na região de Apuí, no Amazonas, e ao longo da rodovia BR-163, no sul do Pará. Conforme a NASA, as áreas desmatadas emitiram “plumas triangulares” de fumaça, que surgem muitas vezes perto de estradas secundárias, formando um padrão de “espinha de peixe” quando vistas de cima. Esse padrão é característico de áreas onde uma estrada principal é aberta na floresta, e estradas menores são criadas a partir dela, resultando em áreas de desmatamento que lembram uma espinha de peixe.
A NASA observou que esse desmatamento é frequentemente realizado para dar espaço à pecuária e à agricultura. Durante a estação seca, os desmatadores removem árvores e galhos secos para preparar a terra para o plantio durante a estação chuvosa.
Doug Morton, cientista da NASA, afirmou que o desmatamento ao longo das fronteiras agrícolas foi a principal causa dos incêndios em julho.
https://twitter.com/NASAEarth/status/1823050704723849452
Fumaça cobre Manaus
Nesta segunda-feira (12), Manaus foi coberta por uma intensa fumaça, que já dura três dias, comprometendo a qualidade do ar em praticamente toda a capital. De acordo com o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva), a qualidade do ar é considerada “ruim” e “muito ruim” em várias partes da cidade.
Atualmente, 22 dos 62 municípios do Amazonas estão enfrentando condições semelhantes. O governo do estado impôs uma proibição de 180 dias à prática de queimadas, incluindo o uso de técnicas de queima controlada. Nas redes sociais, moradores relatam dificuldades para respirar e enxergar devido à espessa camada de fumaça nas ruas.
Para que a qualidade do ar seja considerada boa, a concentração de partículas no ar deve ficar entre 0 e 25 µm/m³ (micrômetro por metro cúbico de ar). Em Manaus, o bairro Morro da Liberdade registrou um nível de poluição de 81.4 µg/m³, enquanto o bairro Cachoeirinha apresentou um nível “moderado” de 36.7 µg/m³.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) informou que a fumaça é resultado das queimadas no sul do Amazonas. A Defesa Civil alertou os moradores sobre os focos de incêndio florestal que, combinados com a chegada de uma frente fria, têm levado a fumaça para a região metropolitana de Manaus.
O problema se estende a outros municípios do Amazonas, como Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã, todos localizados no sul do estado, na região conhecida como “arco do fogo”. As queimadas intensas na área têm colocado Manaus entre as cidades com a pior qualidade do ar no mundo, segundo a plataforma World Air Quality Index.
O governo do estado afirmou que o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM) estão atuando no combate às queimadas na região, com o apoio do Corpo de Bombeiros.
Recorde de queimadas em julho
Entre 1º e 31 de julho, foram registrados 11.145 focos de queimadas na Amazônia, o maior número para o mês desde 2005, de acordo com dados do Sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse número é 93% superior aos 5.772 focos registrados em julho do ano passado e 111% maior que a média dos últimos 10 anos para o mês (5.272 focos).
Os dados mostram que a situação na Amazônia se agravou nos últimos dias de julho: metade dos mais de 11 mil focos de queimadas ocorreu nos últimos oito dias do mês.
As imagens de satélite da NASA capturaram uma dispersão de fumaça “inusitada e intensa”, como descrito pela agência, abrangendo Roraima, Amazonas e Pará. Essas imagens foram publicadas nas redes sociais da NASA nesta segunda-feira (12), destacando a recente alta nas queimadas na Amazônia, que resultou no pior mês de julho em 20 anos para o bioma, com mais de 11 mil focos de calor registrados.